sexta-feira, 9 de maio de 2014

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Livre da Ford e de mãos dadas à China, Volvo quer ser ela mesma
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Eugênio Augusto Brito
Do UOL, em Gotemburgo (Suécia)
Estamos na primavera sueca, mas o céu cinza, a constante chuva fina, ventos cortantes e temperatura máxima de 12 graus durante o dia dão uma atmosfera preguiçosa à bela e organizada cidade de Gotemburgo, segundo maior centro urbano da Suécia (atrás apenas da capital Estocolmo). Mas, parece que quase todos os 600 mil habitantes estão entediados, engenheiros, técnicos e executivos da Volvo Cars encontram motivos para sorrir: a montadora registra resultados positivos consistentes pela primeira vez em muito tempo -- e em diferentes mercados. A alta local foi de 16%, passando dos 45% na China.
Eugênio Augusto Brito/UOL
Um dos escritórios da Volvo em Gotemburgo: clima bom, apesar do céu encoberto
Ao contrário do que muitos ainda pensam, não há cara feia, pé atrás ou algo parecido em qualquer menção à China por parte dos suecos da Volvo. UOL Carros participou de apresentações feitas no quartel-general de relações públicas da companhia, em Lindholmen -- uma área portuária que funciona como centro integrado de pesquisas tecnológicas e estudos acadêmicos ligado à Universidade de Gotemburgo, ao governo local e a companhias suecas de ponta --  e comprovou que ter sido comprada pela chinesa Geely, em 2010, na verdade fez a Volvo renascer: a marca tem dezenas de novos projetos e planos ambiciosos.

(Nariz torcido, só se for ao lembrar da gestão da americana Ford, entre 1999 e março de 2010.)

"Gostamos do jeito como as coisas estão seguindo com o novo controle", nos contou Henrik Lind, responsável pelo desenvolvimento das novas tecnologias de segurança ativa da Volvo. "A Volvo tem tudo sob controle agora, muito mais do que quando estávamos ligados à Ford", afirmou.
LIBERDADE, LIBERDADE
O motivo é muito claro: ainda que o controle financeiro seja dos chineses, o time sueco tem total liberdade para desenvolver carros e soluções, deixando claro que o objetivo da Geely é crescer e ganhar respeito internacional usando o know how da Volvo. "Na época da Ford eles [os americanos] diziam o que deveríamos fazer, quais plataformas do grupo usar e o aproveitamento de cada uma delas", retoma Lind.
Um exemplo claro disso é o hatch Volvo C30, vendido no Brasil até o ano passado com fama de esportivo jovem (chegou a ser usado pelo vampiro no primeiro filme da saga "Crepúsculo"), mas que teve sucesso relativo. Ainda que fosse totalmente um Volvo no visual (ousado, aliás) e no volume de equipamentos, sobretudo de segurança, nunca teve o mesmo fôlego comercial do "primo-irmão" Ford Focus 2.
Ambos foram construídos sobre a plataforma C1 da Ford, juntos com as duas primeiras gerações do japonês Mazda 3. Uma derivação dessa base ainda gerava os sedãs médios e médios-grandes das montadoras.
Agora, as coisas na Volvo prometem mudar para a melhor sob mão chinesa. "Com a Geely, até as novas plataformas serão suecas. Ainda que o comando venha de lá, toda tecnologia e experiência será sueca, tudo feito aqui em Lindholmen", revelou Lind. "Com nossas plataformas, construiremos modelos novos para as duas companhias".    
Stan Honda/AFP
Conceitos como o XC Coupé apontam futuro da Volvo com duas novas plataformas
DA SUÉCIA PARA O MUNDO, VIA CHINA
Outro porta-voz da Volvo, Erick Coelingh, afirmou a UOL Carros que o cerne do desenvolvimento atual são duas plataformas modulares para gerar os novos carros de ambas as marcas. Uma entregará modelos compactos/médios -- plano já conhecido --, outra será responsável por modelos grandes, novidade assumida pela Volvo.
Durante a aquisição em 2010, a Geely havia anunciado planos de usar os produtos da Volvo para concorrer em seu mercado natal com Mercedes-Benz, BMW e Audi, entre outras marcas de luxo, mas que para isso precisava também de sedãs executivos grandes para poder contra-atacar Classe S, Séries 5, 6 e 7, bem como A7 e A8. Algo que a Volvo sempre receou, por não fabricar motores suficientemente grandes para equipar este tipo de carro.
Nada foi dito sobre motorização, mas Coelingh, que é especialista no desenvolvimento de tecnologias de apoio ao motorista e segurança, afirmou que a montadora sueca tem planos de mostrar a plataforma grande até o final deste ano ou começo de 2015. Com ela, poderá construir não apenas novas gerações de SUVs grandes (como o XC90) apreciados pelo consumidor chinês, americano e até brasileiro, mas também um concorrente direto para uma futura geração do Mercedes Classe S, inclusive com a principal arma já prometida para equipar o carro alemão em 2020: a capacidade de se dirigir sozinho, sem comandos do motorista. (UOL Carrosvoltará a falar sobre os planos de carro autônomo da Volvo em breve.)
Ainda que a base seja sueca, literalmente, o principal impulso para a Volvo de amanhã virá da China. A marca europeia tem planos para três fábricas no país asiático, duas de carros (em Chengdu, no Centro-Oeste, e Daqing, no Nordeste do país) e uma de motores (em Zhangjiakou, próxima a Pequim), além da já operante central em Xangai.
O objetivo das instalações é fazer da China o principal mercado da Volvo a partir de 2016, consumindo 200 mil carros anuais. Atualmente, o "título" é dos Estados Unidos, que compraram 61.200 carros da Volvo em 2013, contra 61.150 comprados pela China.
No futuro breve é possível que até os carros vendidos pela Volvo para os Estados Unidos saiam de fábricas na China, mas cheios de tecnologia sueca, para concorrer com rivais -- entre outras marcas -- da Ford. Uma reviravolta interessante na história, que enche os suecos de alegria.
 Remap Distribuidora de Peças Elétricas
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